sexta-feira, 23 de abril de 2010

RECORDANDO

Ciranda, cirandinha...vamos todos cirandar...


Quanta saudade...quanta! Meu pensamento enche-se de visões longinquas do passado.

Brota uma serie infinda de recordações alegres do tempo encantado da vida infancia.

Essa canção infantil tão terna e ingenua, que lá fora um bando garrulo de crianças canta ao clarão sedutor do luar, era a minha predileta. Como o tempo passa! Ainda ontem, eu usava meias curtas, laçaróte de fita nos cabelos e cantava a cirandinha nas noites enluaradas de verão. Parece que ha tão pouco tempo eu palestrava na ingenuidade encantadora de criança com minhas filhas as bonecas. Eram loiras e morenas, chinesas e africanas retintas.

Eu amava todas; tinha para cada uma palavras ternas e uma canção de embalo. Na imaginação fastasista, eu idealizava um mundo lendario, povoado de fadas vestidas de ouro, principes heroicos e princezinhas loiras, varinha de condão e outras mil coisas maravilhosas. A figura que mais admirava era a gata Borralheira. Tinha tanta vontade de experimentar o sapatinho dela... Quando lia ou ouvia historias magicas, eu tomava da imaginação a forma da heroina. A madrasta cruel ou a fada má, era sempre quem eu não apreciava. Tinha um medo terrivel dos dragões de cem cabeças e do gigante das botas de sete léguas...Adorava os sete anõezinhos que guardavam a Bela Adormecida...

Se zangava com minhas bonecas, a ameaça era sempre o enorme dragão que comia meninas levadas...

E assim, nessa doce semi-inconsciencia, passou-se o tempo da cirandinha. Escoou-se tão breve o tempo feliz que se lembra enlevada na mocidade e na velhice.

E hoje, que não mais temo os dragões da carochinha, não é sem uma ponta de emoção que ouço e acompanho baixinho as canções da minha infancia. As vezes porque não confessar tenho uma vontade doida de entrar na roda, de retroceder, transpor as muralhas do passado e novamente ser criança ingenua e tola.

Ver o mundo sempre bonito, achar encanto em todas as coisas da vida. Levantar de braços dados com a felicidade e adormecer sorrindo com ela...Porem, o tempo implacavel, mau, não para de correr celere, numa ancia tiranica. Não retrocede, não repete um momento feliz, pelo contrario, nesses momentos ele acelera o passo. Só deixa para nós como vestigio do que passou o rastro luminoso da saudade, essa fonte inesgotavel de lembranças que mitigam e abrandam a dor.

Saudade...incendio manso que crepita suave iluminando com suas claridades violaceas os corações, esses museus de reliquias boas e más.

Saudade! Unica coisa na vida que consola e maltrata, unico sofrimento bom na terra.
 
 
Minha Mãe
Celisa Diniz Corrêa
(in memorian)

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